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Nenhum país está interessado em uma nova Guerra Mundial

Cem anos desde a Primeira Guerra Mundial e os conflitos entre países agora ocorrem por motivos diferentes de 1914. Principalmente no campo da economia, as nações estão muito ligadas umas às outras. Uma prova disso é a própria existência dos blocos econômicos, como a União Europeia e o Mercosul (Mercado Comum do Sul). Segundo o professor de relações internacionais da UFF Jonuel Gonçalves, essa situação faz com que a maioria desses países vivam em um estado de “nem guerra nem paz”.

Os próprios custos de um conflito também são motivo para reduzir os confrontos e interesses territoriais. Para Gonçalves, a Rússia, na briga com a Ucrânia, não está disposta a prejudicar a economia e nem a perder grande parte do exército na tentativa de anexar a Crimeia.

“Para Rússia pegar um território da Ucrânia sem uma guerra seria complicado. Se ela pegar outra parte depois da Crimeia, já fica um fator de conflito forte. Mesmo que o ocidente não se meta, vai colocar tanto armamento do lado da Ucrânia que a Rússia pode pagar caro. É melhor chegar a um acordo”, explica o professor.

 Território da Ucrânia

A Rússia tem uma ligação histórica com a Crimeia. No século 18 os russos conquistaram o sul da Ucrânia e a Crimeia, tomando a região do Império Otomano. Depois, em 1954, o líder soviético Nikita Khrushchev deu a Crimeia de presente para a Ucrânia. 

Gonçalves também conta que existem países em posições estratégicas que ajudam a manter a paz em uma região. Esse é o caso da Etiópia que atua como guardiã da África oriental, localizada entre o sul do Egito e o norte da Tânzania. A função de policial da região que o ocidente atribui ao país não é apenas de força armada. A Etiópia também usa a diplomacia, como é o caso do conflito no Sul do Sudão, mas, quando necessário, usa a arma militar como faz na Somália.

Posição estratégica da Etiópia

A Etiópia se localiza entre os territórios do Sudão e da Somália. O país possui um forte exército, pois recebe apoio dos EUA. Ele atua como mediador de conflitos na região.

Mas essa não é a única razão pela qual não eclode uma terceira guerra mundial. Para o diplomata do Instituto Rio Branco Leandro Piginatari, a criação da ONU (Organização das Nações Unidas) e o desenvolvimento da tecnologia militar são outros fatores que ajudam a manter a paz.

“A ONU retira dos países a vantagem do uso da força à exceção de casos específicos bem determinados como legítima defesa e ações autorizadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Além disso, desde o desenvolvimento das armas nucleares, seria possível a aniquilação absoluta das partes envolvidos em um conflito. Por isso é fundamental no cálculo de ação dos Estados o custo de um ataque dessa ordem em termos militares, econômicos, sociais e políticos.”

Ainda que existam confrontos armados em alguns países, eles não se comparam à Primeira Guerra Mundial. A disputa entre a Rússia e a Ucrânia passa pelo problema das fronteiras. Para o professor de relações internacionais, os russos querem expandir seu território, mas isso não é fator de guerra.

“Não me parece que os mecanismos sejam os mesmos. Há mecanismos pra evitar esse tipo de conflito. Não é interesse de ninguém uma guerra mundial nesse momento. As interligações das economias mundiais são o contrário do que eram naquela altura.” (da Primeira Guerra Mundial).

Os conflitos na Ucrânia, Síria, Caxemira, Somália e Sul do Sudão são exemplos desse novo modelo de guerra. Para Gonçalves, todos eles têm como causa interesses e privações. Os países querem expandir ou afirmar o poder para aumentar a base material, o que gera conflito. Outro fator é quando o ser humano se sente privado da liberdade.

“O autoritarismo faz com que as pessoas se sintam sem direitos e isso revolta. O estado autoritário no fundo é fraco, porque se entra em um processo de eleições já era”, afirma o professor.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esse é o caso da Síria. A forte repressão por parte do governo fez com que os protestos se alastrassem pelo país. O problema é que, segundo Pignatari, os próprios grupos da oposição têm diferenças entre si.

"Um ano após as primeiras manifestações, os protestos se configuram como uma rebelião armada contra o Governo, liderada, em princípio, pelo Exército Livre Sírio. Não há plena cooperação entre os grupos rebeldes, mas sim intensas lutas entre as facções, fragmentando a oposição.” 

"  Não é interesse de ninguém uma guerra mundial nesse momento. As interligações das economias mundiais são o contrário do que eram naquela altura

(da Primeira Guerra Mundial) ."  Afirmou o professor de relações internacionais da UFF Jonuel Gonçalves.

Síria corre o risco de ter seu território dividido

A disputa entre o governo e a oposição pode terminar com a divisão do território da Síria, de acordo com o diplomata do Instituto Rio Branco Leandro Pignatari. As forças estão equilibradas e tem exércitos fortes. O governo possui, inclusive, o apoio Russo que fornece suprimentos de armas e financia grupos armados. Assim, fica difícil a retomada do controle total do país tanto pelo governo como pela oposição, formada pelo Partido Democrático e os Jihadistas.

Nessa conflito, existe também o medo de que os Jihadistas tomem o poder espalhando o terrorismo e desestabilizando a região. O que atrapalha os Estados Unidos e a Rússia que possuem interesses no papel e posição estratégica da Síria. Enquanto o governo controla as regiões de Qalamoun, Homs e Lataquia, a oposição tem o norte e leste do país. De acordo com Pignatari a região de Curda já é independente.

“Em Curda, por exemplo, existe um exercício de administração própria, conduzida pelo Partido Democrático Curdo (PYD), a qual, afirma-se, ocorre com o consentimento de Damasco.”

O diplomata conta ainda que a intervenção estrangeira fornecendo armas e financiando grupos armados não ajuda a solucionar o problema. A saída seria por meio de negociações, como as realizadas no Comunicado de Genebra em junho de 2012. A proposta era resolver a guerra civil com a construção, pelo povo sírio, de um governo de transição capaz de realizar a reconciliação nacional.

 

“O Brasil acredita que somente pelo diálogo político entre as partes, será possível resolver o conflito na Síria. Porém, atualmente, são poucas as perspectivas de retomada das negociações, inclusive diante da realização de eleições presidenciais pelo Governo”, explica o diplomata.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Países como Irã, Turquia e Arábia Saudita também podem influenciar no conflito, já que há uma disputa pelo domínio da região. Assim, ocorrem confrontos envolvendo as forças armadas da Síria ou grupos rebeldes e os exércitos de países vizinhos.

 

"  Em Curda, por exemplo, existe um exercício de administração própria, conduzida pelo Partido Democrático Curdo (PYD), a qual, afirma-se, ocorre com o consentimento de Damasco."  Afirma o diplomata do Instituto Rio Branco Leandro Pignatari.

Os cinco conflitos mais violentos do mundo

O professor de relações internacionais da UFF Jonuel Gonçalves afirma que os conflitos na Síria, Ucrânia, Caxemira, Sul do Sudão e Somália envolvem países importantes e são marcados pelo uso violência.

Como começou

Síria

A Privação da liberdade levou a rebeliões populares. Além das taxas de pobreza e desemprego.

Países envolvidos

EUA, Rússia e estados próximos como Irã, Turquia e Arábia Saudita.

Problemas

Equilíbrio entre as forças da oposição e do governo.

Ucrânia

O autoritarismo do governo quebrou as vias de solução institucional, já que não havia garantia de eleição livre, e gerou revoltas populares. Além disso, há o interesse da Rússia e União Europeia na Ucrânia como corredor e fator econômico.

União Europeia e EUA.

A divisão entre aqueles que apoiam a União Europeia e os que apoiam a Rússia.

Caxemira

Entre a Índia e Paquistão há uma zona mista de hindus e mulçumanos, a Caxemira. Desde os anos 70 há uma briga pelo domínio do território.

Índia e Paquistão.

Há uma disputa entre eles pelo território, já que é uma região estratégica para os dois países. Além disso, há um movimento que apoia a tomada do território pelo Paquistão, já que a maioria é mulçumana.

Sudão

Luta de poder entre o presidente e seu vice. Houve tentativa de golpe do estado, mas ela falhou. Os dois lados resistiram e o exército se divididiu.

Etiópia e EUA. 

Falta de confiança entre o presidente e o vice que não conseguem chegar a um acordo. A população também sofre com a privação de direitos políticos. Além disso, a região dá acesso à entrada sul do Mar Vermelho, por onde passa metade do tráfico entre Europa e Oriente Médio.

Somália

Privações materiais e de direitos políticos levaram a revoltas. Além da presença do grupo terrorista Al Shabaab que é ligado à rede Al Qaeda.

Etiópia e EUA.

O país não possui um governo efetivo e fica nas mãos de milícias radicais islâmicas, senhores da guerra e grupos de criminosos armados. Além disso, a região dá acesso à entrada sul do Mar Vermelho, por onde passa metade do tráfico entre Europa e Oriente Médio.

A população e a guerra civil

 

O professor de relações internacionais da UFF Jonuel Gonçalves fala sobre os riscos e danos de uma guerra civil que não acontece em um campo de batalha, mas no meio de cidades.

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