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Um século depois e ainda não descobrimos a paz

A paz ainda não é uma constante no mundo de hoje, afirmou o historiador Rafael Pinheiro. 

     Um século se passou desde o fim da Primeira Guerra Mundial e o mundo ainda não viveu a experiência de um período sem conflitos.  Em 1914 começava uma guerra como nunca antes vista, na qual todas as grandes potências da época foram envolvidas em um conflito que marcou para sempre a história. Muitos historiadores trabalham com a hipótese de uma Guerra Total, ou seja, uma guerra que durou até o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945. O período de paz no entre guerras não foi uma experiência vivida por todos os países. Rafael Pinheiro, professor de história do Departamento de Relações Internacionais da Unilasalle e pesquisador do Tempo Presente na UFRJ, mostrou o exemplo de alguns acontecimentos que apoiam a tese de uma Guerra Total.

     A Guerra Civil Espanhola e o avanço do fascismo alemão na segunda metade da década de 1930 foram fatores que mostraram que a paz não foi contínua, ou seja, foi um período no qual as potências se reorganizavam no cenário internacional. O Tratado de Versalhes foi uma semente para o próximo conflito depois da reorganização dos Estados e de um período de marcado por instabilidades . Rafael mostrou que a Primeira Guerra causou impactos tanto na econômia dos países quanto na sociedade: 

 

     - A primeira Guerra Mundial, do ponto de vista estrutural, envolveu a sociedade em seu conjunto, mobilizando recursos econômicos e os indivíduos, não só no recrutamento militar mas no suporte econômico e produtivo para a guerra. Para a sociedade, esse foi o maior impacto que a guerra causou - afirmou Rafael.

 

 

Uma nova rotina de trabalho

Homens e mulheres trabalhando durante a Primeira Guerra Mundial na fabricação de munições em Chilwell, Nottinghamshire, Inglaterra, 1917.

     Para entender as causas da guerras temos que lembrar do status quo da época em que o conflito começou. A ambição imperialista dos países foi um dos fatores que propiciaram o início da guerra, assim como a política expansionista. A partir do desequilíbrio, os países formam alianças, somando forças para derrotar os inimigos. A Inglaterra era uma grande potência, liderando o comércio pelos mares e tinha como rival a Alamanha, que após sua unificação buscou ampliar sua força econômica. Além das ambições dos Estados, existiam antigas rivalidades por territórios. Um exemplo disso foi a disputa da França e da Alemanha pelo território da Ascácia-Lorena, uma região rica em minério e carvão, que foi perdida pela França na guerra Franco-Prussiana, que ocorreu entre 1870 e 1871. 

 

"100 anos se passaram ainda não descobrimos o que é a paz",

afirmou Rafael Pinheiro.

A Balança de Poder durante a guerra

     O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, foi a deixa para que os países iniciasem uma guerra que já estava anunciada pelo clima de rivalidades entre as potências. Em pouco tempo, a guerra foi se expandindo em escala global. Todos os continentes foram envolvidos no conflito, mas nem todos tiveram seu território afetado pela guerra.

  Durante a guerra, os países reorganizavam suas alianças e mudavam de lado, como foi o caso da Itália. De um lado estava a Tríplice Aliança, formada pelo Império Alemão, o Império Áustro-Húngaro e a Itália. Do outro estava a Tríplice Entente formada peloo Reino Unido, a França e o Império Russo.

O dia em que o ataque foi anunciado 

 Manchete do Jornal "Le Soir",da Bélgica, em agosto de 1914, anunciando o ataque alemão na Bélgica. Eram os primeiros anos do conflito que envolveu países de todos os continentes.

A Europa como deveria ser, por Louis P. Bénézet

     Mapa de Louis P. Bénézet, "Europa como deveria ser", feito em 1918, mostra como deveria ser feita a divisão dos territórios, levando em consideração fatores étnicos e linguísticos. A divisão dos territórios no fim da Primeira Guerra Mundial gerou um sentimento de revanchismo entre os países, motivo de guerra anos depois. A divisão feita pelos países vencedores não levou em conta fatores importantes para manter a unidade de um povo. Rafael Pinheiro revelou que esse cenário de tensão entre os países no fim da guerra não gerou um ambiente harmônico e mesmo quando o mundo achava que a paz seria alcançada, eventos do cotidiano mostram que vivemos um novo tipo de guerra. 

A paz ainda é uma utopia e não vivenciamos mesmo com o anúncio do fim das guerras, que era visto com otimismo pelas nações, a esperança de um futuro harmônico e sem mortes. O número de perdas humanas durante as duas guerras mundial, ou a Grande Guerra, como preferem alguns historiadores, foi sem precedentes. Estima-se que 15.000.000 a 65.000.000 pessoas morreram durante a Primeira Guerra e 40.000.000 a 72.000.000 pessoas morreram durante a Segunda Guerra. Esses números ficam ainda maiores quando acrescentamos conflitos espalhados pelo mundo que reafirmam a tese do professor Rafael Pinheiro, de que nunca vivemos em tempos de paz. 

Entrevista com Rafael Pinheiro: 

"A paz ainda não é uma constante no mundo de hoje". Rafael Pinheiro, professor no departamento de Relações Internacionais da Unilasalle e pesquisador do Tempo Presente na UFRJ conta sobre os motivos pelos quais a paz ainda não impera no mundo. 

A Guerra através do tempo 

     A ONU, Organização das Nações Unidas, tem como principal missão, desde a sua criação, no ano do fim da Segunda Guerra Mundial, 1945, manter a paz no ambiente internacional, para que eventos tão devastadores como as duas guerras vividas no início do século XX não se repitam. No entanto, apesar de todos os esforços, pelo mundo encontramos diversos conflitos que tornam a busca pela paz um caminho ainda mais difícil, que atravessa questões religiosas, conflitos étnicos e o interesse dos Estados. Pelo mundo, encontramos uma nova forma de guerra.

 Rafael Pinheiro contou que a guerra contemporânea não tem o protagonismo das grandes potências, que se escondem sua influência nas periferias para exercer o seu domínio e manter o status quo. A paz não veio com as instuições como a ONU e não foi barrada por acordos entre as nações. Ainda prevalece os interesses individuais dos Estados acima de valores como a vida e a harmonia na relação entre os Estados, que desde os temos mais remotos é conflituosa. A eclosão de uma Terceira Guerra Mundial é descartada por Rafael mas as guerras internas serão constantes.

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